sábado, 22 de março de 2008

Visigodos

Os visigodos foram um de dois ramos em que se dividiram os godos, um povo germânico originário do leste europeu, sendo o outro os ostrogodos. Ambos pontuaram entre as outras tribos germanas que penetraram o Império Romano no período das migrações.




A partir do século 3, o Império Romano começou a ser pressionado por diversas tribos, entre elas a dos visigodos, pertencentes ao povo godo, que partiam do mar Báltico (braço do oceano Atlântico, ao norte da Europa, tendo às suas margens a Dinamarca, Suécia, Finlândia, Rússia, Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia e Alemanha) em direção ao mar Negro (em cujas costas se estendem hoje os litorais da Rússia, Turquia, Bulgária e Romênia).

Inicialmente eles se instalaram nas regiões florestais dos rios Dniester e Danúbio, mas depois, ultrapassando este último, internaram-se cada vez mais no território ocupado pelos romanos, alcançando a Sicília por volta de 257. Anos depois, em 271, o imperador Aureliano (212-275) deixou a Dácia (região na parte central da Europa, que equivalia mais ou menos ao território hoje ocupado pela Romênia) em suas mãos, e assim, durante um século eles dominaram aquelas regiões sem qualquer resistência dos nativos, para os quais mudara apenas o invasor.

Em 332, após dura derrota que sofreram, os visigodos concordaram em assinar um tratado de paz com os romanos, o foedus, respeitado durante 35 anos, tempo suficiente para que a civilização romana e o cristianismo penetrassem em sua cultura. Sinal dessa influência foi a sagração de Ulfilas (311-383), que se tornou o primeiro bispo dos godos ao Norte do Danúbio (341), e a quem se atribui a invenção de uma escrita (alfabeto gótico) e a tradução do Novo Testamento. Isso, porém, não foi motivo para que a aristocracia visigoda adotasse o cristianismo, tanto que de 348 a 369, seus chefes moveram duras perseguições aos cristãos. Ulfilas morreria exilado em Constantinopla, e a fé cristã só foi adotada pelos nobres após sua incorporação ao império romano.

Em 375 os hunos atacaram os godos, que buscaram asilo junto ao Império Romano. Sob a direção de Fritigern, considerado predecessor e mestre de Alarico I (370-410), oitavo rei dos visigodos, eles se estabeleceram na Trácia (região da Europa Oriental cujos limites variaram através das épocas), mas grande número deles preferiu subir o Danúbio e instalar-se nos Cárpatos (conjunto montanhoso da Europa central), colocando-se sob a autoridade huna. Em ambos os grupos havia visigodos e ostrogodos: porém, enquanto estes se fixaram pouco mais ao norte do rio, os visigodos preferiram ficar em território dominado pelos romanos.

Em 377 houve um levante visigodo contra as más condições de vida na Trácia. O imperador Valente (328-378) procurou abafar a rebelião, mas foi morto na batalha de Adrianópolis. Prosseguindo com a insurreição, os rebelados deslocaram-se em direção a Constantinopla, e embora não conseguissem bloquear a capital oriental, deixaram de aceitar o foedus romano. Assim, voltando à vida errante, eles passaram a devastar a região dos Bálcãs (cordilheira que se estende através da região central da Bulgária, da fronteira com a antiga Iugoslávia ao mar Negro), desorganizando-se completamente. Em 392, Alarico I, novo chefe visigodo, aceitou um novo tratado de paz, em razão do qual os romanos (397) lhe cederam o Épiro (antiga região da Grécia) e o nomearam chefe de milícia para a província de Ilírica (uma das quatro grandes prefeituras em que o Império Romano se dividiu no século 4, correspondente, de um modo geral, à Grécia, Creta, Macedônia, Albânia e Sérvia).

Significava dizer que o chefe visigodo passava a dispor de poderes militares na metade ocidental da península, mas como ele considerava a parte oriental do império excessivamente esgotada para ser pilhada, resolveu invadir a Itália em 401, ocupando inicialmente Veneza, depois Milão, chegando às portas de Roma em 408, invadindo-a em 410, saqueando-a durante três dias, e ao abandoná-la, levando Plácida (388-450), a irmã do imperador Honório (395-423), como refém. Em seguida os invasores procuraram chegar à África, mas como não dispunham de navios, foram forçados a permanecer no sul da Itália, onde Alarico I acabou falecendo. O comando foi então entregue a Ataulfo (?-415), cunhado do falecido, que conduziu suas forças para o norte, entrando na Gália (região da Europa que se considera geralmente ter constituído a parte Sul e Oeste do rio Reno), em 412, e conquistando Narbonne, Toulouse e Bordeaux, onde os invasores permaneceriam por três gerações. Buscando uma conciliação definitiva com os romanos, Ataulfo casou-se com Plácida em 414, mas acabou sendo morto por seus homens durante uma invasão na Espanha.

Wallia (?-418), sucessor de Ataulfo, tentou realizar o sonho de Alarico I (invadir a África), passando dessa vez por Gilbraltar, mas fracassou. Após a sua morte, Teodorico I (?-451), assumiu o poder e instalou o primeiro Estado bárbaro dentro do território dos romanos; sendo respeitado por eles, chegou mesmo a lhes oferecer auxílio militar contra os hunos, tendo morrido durante a guerra contra Átila. Seu filho, Teodorico II (426-466), mais educado e culto que os anteriores reis visigodos, tanto que sabia ler e escrever, não apenas renovou o foedus com os romanos, como se colocou a serviço de Roma para combater os suevos na Espanha. Mas seria sob Eurico (?-484), irmão de Teodorico II, que o reino visigodo na Gália atingiria o auge, pois o novo rei aproveitou-se da decomposição do Império Romano para expandir os seus territórios. Em 469, bateu os bretões e ocupou a Aquitânia (antiga divisão romana da Gália ocidental), fazendo o mesmo em relação a Auvergne (474/475) e chegando a expandir sua influência até a Espanha. No período seguinte, Alarico II, que assumiu em 484, foi um rei medíocre, mas apesar de ter conseguido consolidar o domínio dos visigodos em terras espanholas, suas tropas foram derrotadas, em 507, por Clovis I, rei dos francos, que matou seu adversário com as próprias mãos.

Os ostrogodos intervieram para salvar os visigodos, e durante uma geração os dois ramos mantiveram-se unificados. Teodorico, soberano ostrogodo, transformou o reino de Toulouse em reino de Toledo, na Espanha – para onde os visigodos haviam se retirado após a invasão franca. Em 549, porém, deu-se o assassinato do último chefe ostrogodo, e o poder foi tomado por Agila, um visigodo, também assassinado durante uma invasão. Os visigodos recolheram-se nos limites de Toledo (551), encerrando sua migração. O reino de Toledo duraria até 711, quando foi submetido pelo Islão.

Aos poucos os visigodos estabeleceram em torno de Toledo uma unidade de sentimento hispânico, começando pela implantação do cristianismo, empreendida por Leovegildo (569 a 586) e concluída por Recaredo (586 a 601). A união política foi alcançada com a destruição do reino suevo (585), o combate aos separatistas bascos, e a unificação das leis das diferentes tribos e povos naturais da Espanha.

Fontes: Enciclopédia Abril / Wikipédia

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